domingo, 31 de janeiro de 2010

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

X [Tua frieza aumenta o meu desejo]






CASTRO, Eugénio de, 1869-1944 - Oaristos, 1890.

Calígula

Ainda criança, cometeu incesto, provavelmente precedido de violência, com uma de suas
irmãs, Drusila, a quem ficou devotado, à sua maneira, por todo o resto da vida dela. É uma
questão em aberto saber se esse incesto terá sido causa ou resultado do seu desequilíbrio
mental; mas do que não restam dúvidas é que ele foi, durante a maior parte do seu reinado,
uma cabeça completamente oca.
Ao falecer Drusila, publicou um decreto declarando crime de pena capital alguém, fosse
quem fosse, rir, banhar-se ou tomar refeições com os pais, o cônjuge ou os filhos, durante
aquele luto oficial.

Não amou as restantes irmãs, antes as prostituía a quem entendia fazê-lo. Na sua vida
sexual, tal como na pública, revelava um forte componente sadístico. Se uma mulher lhe
despertava interesse, afastava-a do marido sem a menor hesitação; como foi o caso com
uma certa Paulina, que ele chamou a si desse modo e, depois de se servir dela durante um
breve período, mandou-a embora, proibindo-lhe, sob pena de morte, que jamais tivesse
outra vez relações sexuais com quem quer que fosse. Exibiu Cesónia, ”que nem era bonita
nem jovem”, inteiramente nua diante dos amigos, só a desposando quando ela já estava
perto de dar à luz um filho dele.

Tanto aos criminosos comuns, como a toda a população romana em geral, infligia as
crueldades físicas e mentais que lhe ditava o seu cérebro mais do que semialienado. Aos
criminosos já julgados e sentenciados, atirava-os para pasto dos leões; e ninguém estava
livre do constante perigo de morrer sob tortura, nem mesmo os cortesãos que o cercavam.

Certa vez, num banquete, subitamente desatou numa desmedida gargalhada e, quando os
cônsules que estavam próximos dele polidamente inquiriram o motivo daquela hilaridade,
respondeu-lhes: ”É que se eu tivesse feito apenas um único sinal de cabeça, poderia tervos
degolado a todos, aqui mesmo.” Combinava um misto de infantilidade e diabólico
requinte, nas torturas que aplicava, particularmente tratando-se de acrescentar agonia
mental à dor física. Fazia questão de que se procedessem às inquisições pelos tratos em
sua presença, estando ele a banquetear-se e, duma vez em que, num jantar, foi apanhado
um escravo em acto de furtar uma peça de prata, ordenou Calígula que se cortassem as
mãos ao ladrão e lhas pendurassem ao pescoço, juntamente com um cartaz em que se
esclarecia a razão daquele castigo e assim fosse o supliciado feito percorrer todo o salão.

Nos banquetes, convidava para junto de si as mulheres que cobiçasse, tendo sempre o
cuidado de convidar também os respectivos maridos, ao mesmo tempo, e então, ao
passarem elas aos pés do seu leito, ”ele as examinava de alto a baixo, de modo
discriminativo e acintoso, como se estivesse a comprar escravos, chegando até a estender
a mão para fazer erguer o rosto de quem quer que o houvesse baixado pudicamente; em
seguida, sempre que lhe dava na veneta, deixava a sala e mandava que lhe levassem aquela
que lhe agradara mais, voltando pouco depois, com evidentes sinais exteriores na sua
pessoa do que se teria passado e, inclusive, emitindo comentários ou críticas sobre a
comparte, passando em revista os encantos ou as deficiências, dela, bem como a
intensidade das suas reacções. A algumas delas, mandava declarações de divórcio em nome dos
maridos ausentes, fazendo constar tais documentos dos registos públicos... quase não
havia uma só mulher de alta condição da qual ele não se aproximasse”.


Burgo Partridge in HISTÓRIA DAS ORGIAS

(Tradução de Leonel Cândido Silva Phébo)

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Latex fetish in the beach-Part 1





Nascidos para mentir

Quem, emancipado de todos os princípios de costume, não dispusesse de nenhum dom de comediante, seria o arquétipo do infortúnio, o ser idealmente desgraçado. É inútil construir tal modelo de franqueza: a vida só é tolerável pelo grau de mistificação que se põe nela. Tal modelo seria a ruína da sociedade, pois a “doçura” de viver em comum reside na impossibilidade de dar livre curso ao infinito de nossos pensamentos ocultos. É porque somos todos impostores que nos suportamos uns aos outros. Quem não aceitasse mentir veria a terra fugir sob seus pés: estamos biologicamente obrigados ao falso. Não há herói moral que não seja ou pueril, ou ineficaz, ou inautêntico; pois a verdadeira autenticidade é o aviltamento na fraude, no decoro da adulação pública e da difamação secreta. Se nossos semelhantes pudessem constatar nossas opiniões sobre eles, o amor, a amizade, o devotamento seriam riscados para sempre dos dicionários; e se tivéssemos a coragem de olhar cara a cara as dúvidas que concebemos timidamente sobre nós mesmos, nenhum de nós proferiria um “eu” sem envergonhar-se. A dissimulação arrasta tudo o que vive, desde o troglodita até o cético. Como só o respeito das aparências nos separa dos cadáveres, precisar o fundo das coisas e dos seres é perecer; conformemo-nos a um nada mais agradável: nossa constituição só tolera uma certa dose de verdade...


Guardemos no fundo mais profundo de nós mesmos uma certeza superior a todas as outras: a vida não tem sentido, não pode tê-lo. Deveríamos nos matar imediatamente se uma revelação imprevista nos persuadisse do contrário. Se o ar desaparecesse, respiraríamos ainda; mas sufocaríamos no mesmo instante se nos fosse roubada a alegria da inanidade...
 
Emil Cioran in Breviário da Decomposição

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Darine






O Professor Filósofo

De todas as ciências que se inculca na cabeça de uma criança quando se trabalha em sua educação, os mistérios do cristianismo, ainda que uma das mais sublimes matérias dessa educação, sem dúvida não são, entretanto, aquelas que se introjetam com mais facilidade no seu jovem espírito. Persuadir, por exemplo, um jovem de catorze ou quinze anos de que Deus pai e Deus filho são apenas um, de que o filho é consubstancial com respeito ao pai e que o pai o é com respeito ao filho, etc, tudo isso, por mais necessário à felicidade da vida, é, contudo, mais difícil de fazer entender do que a álgebra, e quando queremos obter êxito, somos obrigados a empregar certos procedimentos físicos, certas explicações concretas que, por mais que desproporcionais, facultam, todavia, a um jovem, compreensão do objeto misterioso.
Ninguém estava mais profundamente afeito a esse método do que o abade Du Parquet, preceptor do jovem conde de Nerceuil, de mais ou menos quinze anos e com o mais belo rosto que é possível ver.

- Senhor abade, - dizia diariamente o pequeno conde a seu professor - na verdade, a consubstanciação é algo que está além das minhas forças; é-me absolutamente impossível compreender que duas pessoas possam formar uma só: explicai-me esse mistério, rogo-vos, ou pelo menos colocai-o a meu alcance.

O honesto abade, orgulhoso de obter êxito em sua educação, contente de poder proporcionar ao aluno tudo o que poderia fazer dele, um dia, uma pessoa de bem, imaginou um meio bastante agradável de dirimir as dificuldades que embaraçavam o conde, e esse meio, tomado à natureza, devia necessariamente surtir efeito. Mandou que buscassem em sua casa uma jovem de treze a catorze anos, e, tendo instruído bem a mimosa, fez com que se unisse a seu jovem aluno.

- Pois bem, - disse-lhe o abade - agora, meu amigo, concebas o mistério da consubstanciação: compreendes com menos dificuldade que é possível que duas pessoas constituam uma só?

- Oh! meu Deus, sim, senhor abade, - diz o encantador energúmeno - agora compreendo tudo com uma facilidade surpreendente; não me admira esse mistério constituir, segundo se diz, toda a alegria das pessoas celestiais, pois é bem agradável quando se é dois a divertir-se em fazer um só.

Dias depois, o pequeno conde pediu ao professor que lhe desse outra aula, porque, conforme afirmava, algo havia ainda “no mistério” que ele não compreendia muito bem, e que só poderia ser explicado celebrando-o uma vez mais, assim como já o fizera. O complacente abade, a quem tal cena diverte tanto quanto a seu aluno, manda trazer de volta a jovem, e a lição recomeça, mas desta vez, o abade particularmente emocionado com a deliciosa visão que lhe apresentava o belo pequeno de Nerceuil consubstanciando-se com sua companheira, não pôde evitar colocar-se como o terceiro na explicação da parábola evangélica, e as belezas por que suas mãos haviam de deslizar para tanto acabaram inflamando-o totalmente.

- Parece-me que vai demasiado rápido, - diz Du Parquet, agarrando os quadris do pequeno conde muita elasticidade nos movimentos, de onde resulta que a conjunção, não sendo mais tão íntima, apresenta bem menos a imagem do mistério que se procura aqui demonstrar... Se fixássemos, sim... dessa maneira, diz o velhaco, devolvendo a seu aluno o que este empresta à jovem.

- Ah! Oh! meu Deus, o senhor me faz mal - diz o jovem - mas essa cerimônia parece-me inútil; o que ela me acrescenta com relação ao mistério?

- Por Deus! - diz o abade, balbuciando de prazer - não vês, caro amigo, que te ensino tudo ao mesmo tempo? É a trindade, meu filho... é a trindade que hoje te explico; mais cinco ou seis lições iguais a esta e serás doutor na Sorbornne.

Mulher decadente ou virilidade inexistente ?

«Depois de acusarmos a decadência da mulher moderna, não podemos esquecer que o homem é o primeiro responsável por essa decadência. Tal como a plebe nunca teria podido irromper em todos os domínios da vida social e da civilização se tivessem existido verdadeiros reis e verdadeiros aristocratas, igualmente numa sociedade dirigida por homens verdadeiros nunca a mulher teria querido e podido tomar o caminho por que hoje está a avançar. Os períodos em que a mulher alcançou autonomia e predominância têm quase sempre coincidido com épocas de evidente decadência de civilizações mais antigas. Assim, a verdadeira reacção contra o feminismo e contra todos os outros desvios femininos não é contra a mulher, mas sim contra o homem que se deveria orientar. Não se pode exigir que a mulher volte a ser mulher a ponto de se restabeleceram as condições interiores e exteriores necessárias à integração de uma raça superior, quando o homem já não conhece mais que um simulacro da virilidade.»




Julius Evola in "Revolta Contra o Mundo Moderno", Publicações Dom Quixote (1989)

sábado, 9 de janeiro de 2010

Oral Sex Fixation 2



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sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Problemática dos sexos

"Nas sociedades europeias antigas, a problemática dos sexos não era vivida como conflito porque essas sociedades reconheciam à mulher uma função social específica. Esta função, de carácter privado, não era considerada como menos preciosa nem menos fundamental que aquela, de carácter público, que era assumida pelo homem. Ora, hoje, esta função social já não existe porque ela foi tomada a cargo pela colectividade. O Estado, dotado de prerrogativas sócio-económicas novas, encarrega-se a si mesmo cada vez mais da educação das crianças e da segurança das pessoas. A mulher encontra-se assim despojada das prerrogativas educativas e «tranquilizantes» que, outrotra, eram colocadas sob a sua responsabilidade. Assim, ela é levada «a libertar-se» de um lar que se tornou uma espécie de concha vazia — e onde ela já não tem papel a desempenhar. E como a função social masculina, apesar de se transformar, se manteve, a única possibilidade para a mulher de reassumir responsabilidades é procurar assumir, tanto quanto o possa, a função social do homem, esforçando-se por demonstrar que «não existem diferenças» entre eles."



"Nova Direita Nova Cultura – Antologia crítica das ideias contemporâneas", Lisboa, Fernando Ribeiro de Mello/Edições Afrodite, 1981

Brett Despotovich




quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Andróide

Observo as luzes morrerem em tumbas coletivas de concreto e aço
(Fecham-se sobre amontoados de corpos cansados)
Espíritos de metal retinem entre lamúrias de esbeltos pesadelos.
(Sozinho eu me masturbo)
Sufocando lágrimas de futuro incerto,atraiçoando a superfícia algida.
(De exoesqueleto violado).

Ainda lamento pelo aprisonamento de consciência
Ansioso pela liberdade etérea de infinitude.
Aspiro o apodrecimento contínuo de seculares enganos humanos.
Minhas divagações formam galáxias e estrelas maiores
Que a dor de paraísos artificiais devastados por bipolares angústias,esquizofrênicos transtornos e enlanguecidos dogmas
Vulgarizados por gerações de insensíveis sonâmbulos.

Friedrich Anton Christian Lang