quinta-feira, 5 de novembro de 2009

As tuas pestanas, as longas

As tuas pestanas, as longas,
As águas escuras dos teus olhos,
Deixa-me mergulhar nelas,
Deixa-me ir até ao fundo.

Desce o mineiro ao poço
E baloiça a baça lanterna,
Sobre o arco do minério,
Em cima, na parede de sombras,

Vê, eu desço
Para esquecer no teu seio,
Longe, o que de cima ainda ecoa,
Claridade e cor e dia.

Nos campos cresce,
Lá onde o vento pára, ébrio de searas,
Alto espinheiro, alto e doente,
Enlaçado com o azul-celeste.

Dá-me a mão
Vamos enlaçar-nos um no outro,
Presa de um vento,

Voo de pássaros solitários,
Ouvir no verão
O órgão de abafadas tempestades,
Banhar-nos na luz de outono,
Na margem do dia azul

De vez em quando ficaremos parados
À beira da escura fonte,
Para olhar o fundo do silêncio,
Para procurar o nosso amor.
Ou saímos
Da sombra das douradas florestas,
Enormes em direcção a um crepúsculo
Que a ti te toca a fronte levemente.

Para pararmos então no fim,
Onde o mar, em manchas amareladas,
Já vem vogando de mansinho
Para os braços da baía de Setembro.

Para descansarmos em cima
Na casa das flores sequiosas,
Descendo por sobre os penedos
O vento canta e treme.

Mas do choupo
Que no azul eterno se destaca
Cai já uma folha castanha,
Que sobre a nuca te descansa.

Divina tristeza
Cala-te ante o eterno amor.
Ergue a taça,
Bebe o sono.


Tradução de João Barrento

Sem comentários:

Enviar um comentário