As tuas pestanas, as longas,
As águas escuras dos teus olhos,
Deixa-me mergulhar nelas,
Deixa-me ir até ao fundo.
Desce o mineiro ao poço
E baloiça a baça lanterna,
Sobre o arco do minério,
Em cima, na parede de sombras,
Vê, eu desço
Para esquecer no teu seio,
Longe, o que de cima ainda ecoa,
Claridade e cor e dia.
Nos campos cresce,
Lá onde o vento pára, ébrio de searas,
Alto espinheiro, alto e doente,
Enlaçado com o azul-celeste.
Dá-me a mão
Vamos enlaçar-nos um no outro,
Presa de um vento,
Voo de pássaros solitários,
Ouvir no verão
O órgão de abafadas tempestades,
Banhar-nos na luz de outono,
Na margem do dia azul
De vez em quando ficaremos parados
À beira da escura fonte,
Para olhar o fundo do silêncio,
Para procurar o nosso amor.
Ou saímos
Da sombra das douradas florestas,
Enormes em direcção a um crepúsculo
Que a ti te toca a fronte levemente.
Para pararmos então no fim,
Onde o mar, em manchas amareladas,
Já vem vogando de mansinho
Para os braços da baía de Setembro.
Para descansarmos em cima
Na casa das flores sequiosas,
Descendo por sobre os penedos
O vento canta e treme.
Mas do choupo
Que no azul eterno se destaca
Cai já uma folha castanha,
Que sobre a nuca te descansa.
Divina tristeza
Cala-te ante o eterno amor.
Ergue a taça,
Bebe o sono.
Tradução de João Barrento
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