sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Dolls

Na noite, no silêncio...

Na noite, no silêncio...
Quando as folhas da melancolia arrefecem com astros
ao lado do espaço
e o coração é uma semente inventada
em seu escuro fundo e em seu turbilhão de um dia
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a casa ardesse pousada na noite.
- E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.
Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes se despenham no meio do tempo
- não sei como dizer-te que a pureza, dentro de mim, te procura.

...



(Excerto do poema «Tríptico», publicado em A Colher na Boca, 1961)

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Aparece


Aparece pura gema feminina
Como uma jovem solitária
No meio dos seus vestidos nus
Como uma jovem nua
No meio das mãos que a imploram
Eu te saúdo

Anseio por uma chama nua
Anseio p'lo que ela esclarece
Surge meu jovem espectro
Nos teus braços uma ilha desconhecida
Tomará a forma do teu corpo
Minha bem aparecida

Uma ilha e o mar decresce
O espaço teria um leve arrepio apenas
Para nós dois um único horizonte
Acredita em mim revela-te assedia o meu olhar
Dá vida a todos os meus sonhos
Abre os olhos.



Paul Éluard in. "últimos poemas de amor" relógio d'água