segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A dignidade das mulheres

Honrai as mulheres!Elas entrançam e tecem
Rosas sublimes na vida terrena,
Entrançam do amor o venturoso laço
E, através do véu casto das Graças (1),
Alimentam, vigilantes, o fogo eterno
De sentimentos mais belos, com mão sagrada.

Nos limites eternos da Verdade, o homem
Vagueia sem cessar, na sua rebeldia,
Impelido por pensamentos inquietos,
Precipita-se no oceano da sua fantasia.
Com avidez agarra o longe,
Seu coração jamais conhece a calma,
Incessante, em estrelas distantes,
Busca a imagem do seu sonho.

Mas, com olhares de encanto e fascínio,
As mulheres chamam a si o fugitivo,
Trazendo-o a mais avisados caminhos.
Na mais modesta cabana materna
Foram deixadas, com modos mais brandos,
As filhas fiéis da Natureza piedosa.


Adverso é o esforço do homem,
Com força desmesurada,
Sem paragem nem descanso,
Atravessa o rebelde a sua vida.
Logo destrói tudo o que alcança;
Jamais termina o seu desejo de luta.
Jamais termina o seu desejo de luta.
Jamais, como cabeça da Hidra, (2)
Eternamente cai e se renova.


Mas, felizes, entre mais calmos rumores,
Irrompem as mulheres, num instante de flores,
Propiciando zelo e cuidadoso amor,
Mais livres, no seu concertado agir,
Mais propensas que o homem à sabedoria
E ao círculo infindável da poesia.


Severo, orgulhoso, autárcico,
O peito frio do homem não conhece
Efusivo coração que a outro se ajuste,
Nem o amor, deleite dos deuses,
Das almas desconhece a permuta,
Às lágrimas não se entrega nunca,
A própria luta pela vida tempera
Com mais rudeza ainda a sua força.


Mas, como que tocada ao de leve pelo Zéfiro,
Célere, a harpa eólica estremece,
Tal é a alma sensível da mulher.
Com angustiada ternura, perante o sofrimento,
O seu seio amoroso vibra, nos seus olhos
Brilham pérolas de orvalho sublime.

Nos reinos do poder masculino,
Vence, por direito, a força,
Pela espada se impõe o cita
E escravo se torna o persa,
Esgrimem-se entre si, em fúria,
Ambições selvagens, rudes,
E a voz rouca de Éris (3) domina,
Quando a Cárite (4) se põe em fuga.


Porém, com modos brandos e persuasivos,
As mulheres conduzem o ceptro dos costumes,
Acalmam a discórdia que, raivosa, se inflama,
Às forças hostis que se odeiam
Ensinam a maneira de ser harmoniosa,
E reúnem o que no eterno se derrama.






(1) Nome latino das Cárites.

(2) Hidra ou serpente de Lernos. Segundo a lenda, quando lhe cortava a cabeça, nascia-lhe uma cabeça dupla, até ter sido morta por Héracles.
(3) Deusa da discórdia.
(4) Divindades da beleza que tem origem nas forças da vegetação. Espalham a alegria na natureza e no coração do homem e dos deuses.

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