domingo, 7 de novembro de 2010
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Em virtude do Amor
Libertei o quarto onde durmo, onde sonho
Libertei o campo e a cidade onde passo,
Onde sonho acordado, onde o sol se levanta,
Onde, nos meus olhos ausentes, a luz se acumula.
Mundo de pequena felicidade, sem superfície e sem fundo,
De encantos esquecidos logo que descobertos,
O nascimento e a morte misturam o seu contágio
Nas dobras da terra e do céu misturadas.
Não separei nada mas reforcei o coração.
De amar, tudo criei: real, imaginário,
Dei a sua razão a sua forma o seu calor
E o seu papel imortal àquela que me ilumina.
Paul Éluard, in "poemas de amor e de liberdade" campo das letras, 2000
trad. Egito Gonçalves
Libertei o campo e a cidade onde passo,
Onde sonho acordado, onde o sol se levanta,
Onde, nos meus olhos ausentes, a luz se acumula.
Mundo de pequena felicidade, sem superfície e sem fundo,
De encantos esquecidos logo que descobertos,
O nascimento e a morte misturam o seu contágio
Nas dobras da terra e do céu misturadas.
Não separei nada mas reforcei o coração.
De amar, tudo criei: real, imaginário,
Dei a sua razão a sua forma o seu calor
E o seu papel imortal àquela que me ilumina.
Paul Éluard, in "poemas de amor e de liberdade" campo das letras, 2000
trad. Egito Gonçalves
Sem Rumo
Uma folha ao dissabor da tempestade
Partindo-se na poeira do abandono
o silencio do amante na sisuda fronte
Do cavaleiro.
Inerte esvaece o infantil assombro
Um esqueleto ao relento chora
A noite embala meus despertos pesadelos
Incessante é a dor estirando mórbidos pensamentos
Espalhando-os como lembranças em chagas.
Uma folha desaparece e no seu rumo incerto
Toda saudação,esperança e amor em delírio partilham
O mergulho em solidão infinita.
Partindo-se na poeira do abandono
o silencio do amante na sisuda fronte
Do cavaleiro.
Inerte esvaece o infantil assombro
Um esqueleto ao relento chora
A noite embala meus despertos pesadelos
Incessante é a dor estirando mórbidos pensamentos
Espalhando-os como lembranças em chagas.
Uma folha desaparece e no seu rumo incerto
Toda saudação,esperança e amor em delírio partilham
O mergulho em solidão infinita.
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Na noite, no silêncio...
Na noite, no silêncio...
Quando as folhas da melancolia arrefecem com astros
ao lado do espaço
e o coração é uma semente inventada
em seu escuro fundo e em seu turbilhão de um dia
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a casa ardesse pousada na noite.
- E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.
Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes se despenham no meio do tempo
- não sei como dizer-te que a pureza, dentro de mim, te procura.
...
(Excerto do poema «Tríptico», publicado em A Colher na Boca, 1961)
Quando as folhas da melancolia arrefecem com astros
ao lado do espaço
e o coração é uma semente inventada
em seu escuro fundo e em seu turbilhão de um dia
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a casa ardesse pousada na noite.
- E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.
Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes se despenham no meio do tempo
- não sei como dizer-te que a pureza, dentro de mim, te procura.
...
(Excerto do poema «Tríptico», publicado em A Colher na Boca, 1961)
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
Aparece
Aparece pura gema feminina
Como uma jovem solitária
No meio dos seus vestidos nus
Como uma jovem nua
No meio das mãos que a imploram
Eu te saúdo
Anseio por uma chama nua
Anseio p'lo que ela esclarece
Surge meu jovem espectro
Nos teus braços uma ilha desconhecida
Tomará a forma do teu corpo
Minha bem aparecida
Uma ilha e o mar decresce
O espaço teria um leve arrepio apenas
Para nós dois um único horizonte
Acredita em mim revela-te assedia o meu olhar
Dá vida a todos os meus sonhos
Abre os olhos.
Paul Éluard in. "últimos poemas de amor" relógio d'água
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
sábado, 7 de agosto de 2010
Há na intimidade um limiar sagrado
Há na intimidade um limiar sagrado,
encantamento e paixão não podem transpor-
mesmo que no silêncio assustador se fundam
os lábios e o coração se rasgue de amor.
Onde a amizade nada pode nem os anos
da felicidade mais sublime e ardente,
onde a alma é livre, e se torna estranha
à vagarosa volúpia e seu langor lento.
Quem corre para o limiar é louco, e quem
o alcançar é ferido de aflição...
Agora compreendes por que já não bate
sob a tua mão em concha o meu coração.
Anna Akhmátova in. "só o sangue cheira a sangue" assirio & alvim
encantamento e paixão não podem transpor-
mesmo que no silêncio assustador se fundam
os lábios e o coração se rasgue de amor.
Onde a amizade nada pode nem os anos
da felicidade mais sublime e ardente,
onde a alma é livre, e se torna estranha
à vagarosa volúpia e seu langor lento.
Quem corre para o limiar é louco, e quem
o alcançar é ferido de aflição...
Agora compreendes por que já não bate
sob a tua mão em concha o meu coração.
Anna Akhmátova in. "só o sangue cheira a sangue" assirio & alvim
sexta-feira, 30 de julho de 2010
Manifesto
"Uma mulher compreendeu que para nada lhe serve usar seus encantos e a isso renuncia. Um outro sabe que a Igreja não faz de ninguém um cristão e recusa batizar seu filho. Um outro vê os malefícios da imprensa a soldo da sociedade e se abstém de lê-la. Tais são os primeiros passos do homem que se afasta do mundo antigo. Vêm em seguida os atos decisivos pelos quais ele o rejeita, o aniquila e o esquece em sua pessoa. Afastar-se radicalmente, interiormente e exteriormente, do mundo antigo e de suas instituições - sociedade, família, Estado, Igreja, arte, ciência, moral e cultura - é a condição da liberdade no mundo novo. A hora das decisões chegou para todos. Todos aqueles que compreenderam que o mundo antigo é um Calvário devem tomar suas responsabilidades. Somos de novo responsáveis pelo destino do mundo: da morte do antigo e do nascimento do novo. É agora que tudo se decide. É agora que nasce o Homem Novo."
[Lothar Schreyer, Manifesto, 1919]
[Lothar Schreyer, Manifesto, 1919]
segunda-feira, 19 de julho de 2010
TALVEZ NÃO SEJA…
talvez não seja sempre assim; e digo eu
que se os teus lábios tão amados tocarem
os de outro, e os teus dedos firmes agarrarem
o seu coração, como não há muito tempo o meu;
se num outro rosto repousar o teu cabelo querido
naquele silêncio que conheço, ou no dizer
de palavras trémulas que por demasiado falarem
ficam indefesas perante o espírito constrangido;
se tiver que ser, eu digo se assim for
tu que és do meu coração, manda-me avisar;
para que eu possa ir até ele, pegar-lhe na mão,
e dizer, recebe de mim a felicidade do amor.
depois hei-de voltar o rosto, e ouvir um pássaro cantar
terrivelmente longe em terras de solidão.
e. e. cummings, in "Qual é a minha ou a tua língua?" assírio & alvim, 2008
trad. Maria da Graça Braga
que se os teus lábios tão amados tocarem
os de outro, e os teus dedos firmes agarrarem
o seu coração, como não há muito tempo o meu;
se num outro rosto repousar o teu cabelo querido
naquele silêncio que conheço, ou no dizer
de palavras trémulas que por demasiado falarem
ficam indefesas perante o espírito constrangido;
se tiver que ser, eu digo se assim for
tu que és do meu coração, manda-me avisar;
para que eu possa ir até ele, pegar-lhe na mão,
e dizer, recebe de mim a felicidade do amor.
depois hei-de voltar o rosto, e ouvir um pássaro cantar
terrivelmente longe em terras de solidão.
e. e. cummings, in "Qual é a minha ou a tua língua?" assírio & alvim, 2008
trad. Maria da Graça Braga
sexta-feira, 16 de julho de 2010
sexta-feira, 9 de julho de 2010
Nox
Noite, vão para ti meus pensamentos,
Quando olho e vejo, à luz cruel do dia,
Tanto estéril lutar, tanta agonia,
E inúteis tantos ásperos tormentos...
Tu, ao menos, abafas os lamentos,
Que se exalam da trágica enxovia...
O eterno Mal, que ruge e desvaria,
Em ti descansa e esquece, alguns momentos...
Oh! antes tu também adormecesses
Por uma vez, e eterna, inalterável,
Caindo sobre o mundo, te esquecesses,
E ele, o mundo, sem mais lutar nem ver,
Dormisse no teu seio inviolável,
Noite sem termo, noite do Não-Ser!
Quando olho e vejo, à luz cruel do dia,
Tanto estéril lutar, tanta agonia,
E inúteis tantos ásperos tormentos...
Tu, ao menos, abafas os lamentos,
Que se exalam da trágica enxovia...
O eterno Mal, que ruge e desvaria,
Em ti descansa e esquece, alguns momentos...
Oh! antes tu também adormecesses
Por uma vez, e eterna, inalterável,
Caindo sobre o mundo, te esquecesses,
E ele, o mundo, sem mais lutar nem ver,
Dormisse no teu seio inviolável,
Noite sem termo, noite do Não-Ser!
domingo, 4 de julho de 2010
Nude photo by K Leo
K Leo is a fine Art photographer who's work seeks to capture the beauty of his subjects. K Leo's photographs range from erotic artistic nudes to pensive emotive portraits.


I want to be quiet
A provisional suport machine
If the sea challenges
Never sure if mind recycling even works.Crossing the findings for increased meanings practicly flakes disapointment.
On every other day
O amor é o amor
O amor é o amor - e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?...
O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!
Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor
e trocamos - somos um? somos dois?-
espírito e calor!
O amor é o amor - e depois?!
Alexandre O'Neill in. "Poesias Completas" assírio & alvim
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?...
O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!
Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor
e trocamos - somos um? somos dois?-
espírito e calor!
O amor é o amor - e depois?!
Alexandre O'Neill in. "Poesias Completas" assírio & alvim
quinta-feira, 1 de julho de 2010
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Soneto de amor
Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma...Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.
Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.
E em duas bocas uma língua..., - unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.
Depois... - abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!
José Régio, in "Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica" antígona/frenesi (1999)
Nem expressões, nem alma...Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.
Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.
E em duas bocas uma língua..., - unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.
Depois... - abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!
José Régio, in "Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica" antígona/frenesi (1999)
quinta-feira, 24 de junho de 2010
Acto surrealista
«O mais simples dos actos surrealistas consiste em vir, de revólver em punho, para a rua e atirar ao acaso, tanto quanto possível, sobre a multidão. Aquele que, ao menos uma vez, não teve vontade de acabar desta maneira com o sistemazinho de envilecimento e cretinização em vigor, tem o seu lugar muito bem reservado nesta multidão, ventre à altura do cano.»
André Breton
André Breton
Manual de civilidade para meninas
NA ESCOLA
_quando te disserem que a gaita de foles é um instrumento usado pelos pastores, não deves contestar afirmando que todos os homens a usam.
_se o professor te pedir emprestada uma caneta não deves, só por isso, parecer que foste convidada a fazer-lhe um broche.(1)
_se o resultado de uma soma for 69 não deves rir como uma idiota.
EM VISITA
_dizer a uma senhora que são belos os seus cabelos louros, é amável; perguntar-lhe em voz alta se os pintelhos são da mesma cor, é indiscreto.
SUPERSTIÇÕES
_para um homem se apaixonar por ti põe-lhe um grão de sal na ponta da gaita(2) e chupa-a até ele se dissolver.
_depois de perderes a virgindade, não deves dirigir-te a Santo António de Pádua para a recuperares. Lembra-te que o Santo António de Tebaida meditou muito sobre as questões do sexo, mas o de Pádua... nem de longe as cheirou.
_não rias durante o sermão se o pregador parecer acreditar «na pureza das raparigas cristãs».
NA CONFISSÃO
_não te masturbes no confessionário para aproveitar, logo de seguida, a absolvição.
EM PASSEIO
_se já tens marmelos, não os destapes a torto e a direito para dar de mamar às bonecas. É uma atitude consentida às amas, mas nunca às raparigas.
NA RUA
_dar uns tostões a um pobre para ele comprar um pão é uma acção meritória; chupar-lhe a gaita porque não tem amante é um exagero. Nada te obriga a fazê-lo.
NAS LOJAS
_não deves entrar num cabeleireiro e dizer, descaradamente, que desejas os pêlos da rata(3) frisados.
NÃO DIGAS... DIZ...
_não digas «vou masturbar-me»; diz «vou ali e já volto».
_não digas «quando tiver pintelhos»; diz «quando eu for crescida».
_não digas «tenho vontade de foder»; diz «estou nervosa».
_não digas «ele dá três sem desencavar»; diz «tem um carácter muito firme».
_não digas «tem uma pixota grossa demais para a minha boca»; diz «sinto-me pequena quando falo com ele».
_quando te disserem que a gaita de foles é um instrumento usado pelos pastores, não deves contestar afirmando que todos os homens a usam.
_se o professor te pedir emprestada uma caneta não deves, só por isso, parecer que foste convidada a fazer-lhe um broche.(1)
_se o resultado de uma soma for 69 não deves rir como uma idiota.
EM VISITA
_dizer a uma senhora que são belos os seus cabelos louros, é amável; perguntar-lhe em voz alta se os pintelhos são da mesma cor, é indiscreto.
SUPERSTIÇÕES
_para um homem se apaixonar por ti põe-lhe um grão de sal na ponta da gaita(2) e chupa-a até ele se dissolver.
_depois de perderes a virgindade, não deves dirigir-te a Santo António de Pádua para a recuperares. Lembra-te que o Santo António de Tebaida meditou muito sobre as questões do sexo, mas o de Pádua... nem de longe as cheirou.
_não rias durante o sermão se o pregador parecer acreditar «na pureza das raparigas cristãs».
NA CONFISSÃO
_não te masturbes no confessionário para aproveitar, logo de seguida, a absolvição.
EM PASSEIO
_se já tens marmelos, não os destapes a torto e a direito para dar de mamar às bonecas. É uma atitude consentida às amas, mas nunca às raparigas.
NA RUA
_dar uns tostões a um pobre para ele comprar um pão é uma acção meritória; chupar-lhe a gaita porque não tem amante é um exagero. Nada te obriga a fazê-lo.
NAS LOJAS
_não deves entrar num cabeleireiro e dizer, descaradamente, que desejas os pêlos da rata(3) frisados.
NÃO DIGAS... DIZ...
_não digas «vou masturbar-me»; diz «vou ali e já volto».
_não digas «quando tiver pintelhos»; diz «quando eu for crescida».
_não digas «tenho vontade de foder»; diz «estou nervosa».
_não digas «ele dá três sem desencavar»; diz «tem um carácter muito firme».
_não digas «tem uma pixota grossa demais para a minha boca»; diz «sinto-me pequena quando falo com ele».
quarta-feira, 23 de junho de 2010
À PORTA DA INSÓNIA
Já o real absorve a irrealidade,
porém que realidade é a da noite
só vivida em palavras? Em vão tento
criar uma sequência de momentos, de
tudo esvaziados, se falho não sei
se é por obras palavras ou imagens
Paro à porta da insónia, e no magro intervalo,
que se alarga depois, reaparece a casa: dentro
dela estou afinal, o estrago que me envolve
é igual ao que também não sei que mal
mortal fez no tecto do sono,
por onde agora entra a realidade
Gastão Cruz, in "a moeda do tempo" assírio & alvim (2006)
porém que realidade é a da noite
só vivida em palavras? Em vão tento
criar uma sequência de momentos, de
tudo esvaziados, se falho não sei
se é por obras palavras ou imagens
Paro à porta da insónia, e no magro intervalo,
que se alarga depois, reaparece a casa: dentro
dela estou afinal, o estrago que me envolve
é igual ao que também não sei que mal
mortal fez no tecto do sono,
por onde agora entra a realidade
Gastão Cruz, in "a moeda do tempo" assírio & alvim (2006)
domingo, 20 de junho de 2010
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